segunda-feira, 14 de março de 2016

KGB tinha 14 espiões em Lisboa

A investigação este sábado publicada na Revista do Expresso revela que a base dos serviços de informação soviéticos instalada no Hotel Tivoli, em 1974, dispunha de 14 operacionais. O acesso ao Arquivo Mitrokhin, depositado na Universidade de Cambridge, indica que a "rezidentura" do KGB em Lisboa, no pós-25 de Abril, era considerável. Os 14 espiões do posto de Lisboa, todos com cobertura legal, e tal como a Embaixada da União Soviética, instalados no Hotel Tivoli, incluiam também jornalistas do "Izvestia" ou das agências TASS e Novosti.
Estas e muitas outras informações são pela primeira vez publicadas na edição do Expresso que este sábado cehgou às bancas, de acordo com uma investigação de Paulo Anunciação que, desde novembro, tem passado a pente fino os arquivos que Vasili Mitrokhov copiou quando era arquivista-chefe do KGB em Moscovo. Esses arquivos estão depositados, juntamente com os de Winston Churchill e Margaret Thatcher, na Universidade de Cambridge e foram agora, e pela primeira vez, alvo de um estudo sistemático que confrontou fontes e visados.
O posto de Lisboa começou a operar em agosto de 1974, poucos dias depois da chegada a Lisboa de Arnold Kalinin, então nomeado Embaixador da União Soviética em Portugal. Kalinin tinha prestado serviço em Havana e, de Portugal, seguiria para Angola, como embaixador. Era fluente em espanhol e português mas o KGB só comunicava com o "Centro", isto é Moscovo, a partir de Paris.
Nesse ano, a Embaixada soviética chegou a ter 210 funcionários, um número apreciável em que se contavam quase todos os 14 agentes do KGB. Como termo de comparação, vale a pena sublinhar que naquela época, e ainda de acordo com a informação do Arquivo Mitrokhin, em Paris encontravam-se 50 espiões. Com o PCP à beira de chegar ao poder e as independências das ex-colónias, sobretudo Angola, em curso, existia um renovado interesse geo-estratégico por Lisboa que também poderia ter um papel decisivo nos movimentos contra a NATO e a entrada na CEE numa Europa ainda dividida pela Guerra Fria. É neste cenário que, nos anos que se seguem ao 25 de Abril e até à chegada de Gorbachov ao poder, se desenrolam inúmeros episódios que envolvem os espiões soviéticos e os políticos e jornalistas portugueses que com eles vêm a colaborar (Expresso, texto do jornalista Miguel Cadete)

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