quinta-feira, 17 de março de 2016

Justiça: Quem comprou os livros de Sócrates?

Durante buscas às principais livrarias do país, os investigadores descobriram que a mãe de Sofia Fava, ex-mulher de José Sócrates, foi uma das ávidas compradoras do livro do ex-primeiro-ministro: pelo menos 186 exemplares. José Sócrates terá tido vários ajudantes naquela que o Ministério Público suspeita ser a sua missão para catapultar o seu livro "A Confiança no Mundo" para os primeiros lugares do top das livrarias: ao todo, Sócrates terá comprado cerca de 10 mil exemplares, conseguindo que em pouco tempo a sua obra, apresentada em Lisboa por Lula da Silva, chegasse à liderança do top de vendas na seção de não fição das principais livrarias do país.

Para consolidar as suspeitas, a equipa liderada pelo procurador Rosário Teixeira varreu as principais livrarias do país. Junto da livraria Bertrand, por exemplo, os investigadores descobriram que Maria Clotilde Fava, mãe da ex-mulher de José Sócrates, Sofia Fava, foi uma das principais compradoras: só naquela cadeia de lojas comprou 186 exemplares. Um número demasiado elevado, sustenta o procurador Rosário Teixeira e o inspetor tributário Paulo Silva, para sustentar a tese de que foram comprados para serem oferecidos.
Sandra Santos, a amiga que vivia na Suíça e que recorrentemente pedia dinheiro ao ex-primeiro-ministro para fazer face a alegadas dificuldades financeiras, também contribuiu: comprou 22 exemplares. As buscas também permitiram detetar aquisições de livros por parte de amigos da vida política: Armando Vara, ex-ministro, ex-administrador da CGD, e outro dos arguidos da Operação Marquês, comprou 16 exemplares. A investigação não conseguiu apurar se, neste caso, as compras não terão sido feitas para seu próprio uso ou para ofertas (ou seja, sem qualquer influência de Sócrates).
Uma das suspeitas mais consolidadas pelo Ministério Público até à data é a de que José Sócrates terá usado o seu próprio dinheiro para transformar o seu livro num êxito literário, recorrendo a uma série de amigos e funcionários. João Perna, o motorista, estava incumbido da tarefa. Tal como Olímpia Viseu, com quem Perna foi casado, e que adquiriu pelo menos 256 exemplares, a maior parte deles pagos em numerário.
Lígia Correia, outra amiga de Sócrates, terá contado com a ajuda da sua filha, Mafalda, para em conjunto comprarem pelo menos 13 livros. O Ministério Público suspeita que o número de exemplares comprados é muito superior pois Lígia terá dito a Sócrates, em conversas que ficaram gravadas e registadas no processo, que "teria 237 páginas feitas". Suspeita-se que seria mais um dos muitos códigos usados pelo ex-primeiro-ministro e por quem com ele falava ao telefone.
Também Inês do Rosário, outra das arguidas do processo e mulher de Carlos Santos Silva (suspeito de ser o testa de ferro de Sócrates), terá ido vezes sem conta à livraria Bertrand. Ao todo, terá adquirido pelo menos 669 exemplares, quase sempre pagos em dinheiro vivo. Um investimento de aproximadamente 12 mil euros. A investigação já não tem dúvidas de que Sócrates comprou milhares de exemplares do seu próprio livro recorrendo a este esquema. O ex-primeiro-ministro que aguarda em liberdade o desfecho do inquérito é suspeito de corrupção, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais (Visão, pela jornalista Sílvia Caneco)

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