sexta-feira, 18 de março de 2016

Crise no Brasil: Lula e Dilma colocam justiça e política em confronto aberto

A justiça e a política no Brasil estão em confronto aberto. Uma espécie de guerrilha iniciada pelas investigações da operação Lava Jato, agravada pelas suspeitas de corrupção envolvendo políticos como Lula da Silva e grandes empresas como Petrobras e Odebrecht, exacerbada pelos protestos de milhares de brasileiros, empolada pelo juiz que aceitou divulgar escutas entre Lula e Dilma, agudizada pela decisão de Dilma de integrar o ex-presidente do país no governo para o proteger de uma eventual prisão e, por fim, dramatizada pela decisão da justiça federal em suspender a nomeação de Lula da Silva como chefe da Casa Civil.

Para já, Dilma Rousseff está determinada a resistir a tudo: sejam as críticas dos brasileiros, que pedem a sua destituição, sejam as decisões da justiça, que estão a interferir com os seus planos – ou mesmo a revolta de muitos deputados, que ontem a receberam com vaias e gritos de “vergonha” no Palácio do Planalto, em Brasília. A presidente não quebrou. E, no seu discurso, não só alegou que está a ser alvo de um “golpe” contra o seu mandato, como ainda desafiou o juiz Sergio Moro (responsável pelas investigações do Lava Jato) para a batalha jurídica. 
Só não conseguiu evitar a criação de uma comissão especial de ‘impeachment’ (destituição) da presidente, eleita ontem ao final do dia na Câmara dos Deputados, com 433 votos a favor e um contra. Assim que o processo for iniciado, Dilma terá dez dias para apresentar a sua defesa. Mas o responsável pela casa parlamentar garante que tudo será feito para o processo seja o “mais célere possível, como deve ser um processo dessa gravidade”, comentou Eduardo Câmara.
O clima de tensão e conflito está assim para durar. E não se limita a encher as ruas do Brasil com manifestações contra o Partido Trabalhista e os seus governantes ou a exigir reforço das medidas de segurança à volta da chefe de Estado e dos membros do governo. Também os noticiários mundiais estão a destacar as constantes actualizações da crise política e mesmo os media no Brasil estão no centro da discussão política.
O impacto é também económico. Os mercados reagiram à suspensão da nomeação de Lula da Silva, com a cotação do real a cair para 3,60 dólares e a bolsa a subir 6,6%. Só a percepção de um possível ‘impeachment’ de Dilma valeu uma ligeira valorização da moeda. Mas os riscos de uma forte crise económica têm aumentado nos últimos meses.
EDP e Galp mais expostas
Para as empresas portugueses com operações no Brasil, os riscos também são elevados, sendo a EDP e a Galp as companhias mais expostas. A crise política pode agravar o sentimento de desconfiança no mercado brasileiro e inverter a tendência de recuperação desde os mínimos de Janeiro. E, com isso, aumentam também os riscos para as cotadas com exposição à economia brasileira, alertam vários analistas. Outras empresas como a Sonae – que gere centros comerciais naquele país – estão mais protegidas do impacto gerado pela crise política. 
“A nossa exposição total ao Brasil não é muito grande, estamos numa posição confortável, praticamente não temos dívida no país”, garantiu ontem Paulo Azevedo durante a apresentação de resultados da Sonae. Ainda assim, espera “condições difíceis no Brasil”. O presidente do grupo lembra que a empresa foi “muito criticada no Brasil quando há uns anos vendemos os centros comerciais em posições mais frágeis e fomos acusados de não perceber o Brasil. Mas o resultado é que hoje temos um portefólio particularmente sólido. Neste momento até os mais fortes sofrem” (texto das jornalistas do Económico, Helena Cristina Coelho e Elisabete Felismino)

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