sábado, 20 de fevereiro de 2016

Expresso: "História de uma aventura que terminou em tragédia"

Segunda-feira, 15 de fevereiro. Sete homens e uma mulher seguem a bordo do Toby Wallace. Missão: bater o recorde do mundo da travessia a remos do Atlântico. Noite escura. Dos oito tripulantes metade está a descansar. Seguem em águas agitadas a 1343 milhas náuticas (2487 quilómetros) a sudoeste da ilha de São Miguel quando uma onda invade parte da embarcação e atira borda fora um dos remadores de serviço. Naquele preciso momento não tinha colete salva vidas. A força da água rebenta o cabo que o mantinha preso à embarcação.
Michael Johnson, de 21 anos, está desaparecido apesar das tentativas dos seus companheiros para o encontrarem e da megaoperação coordenada pelo Centro de Coordenação de Busca e Salvamento Marítimo de Ponta Delgada (MRCC Delgada) onde estiveram envolvidos a corveta António Enes da Armada, um Lockheed P-3C CUP+ Orion da Força Aérea Portuguesa, uma aeronave Falcon-50 da Marinha Francesa (que se encontrava em Dacar, Senegal) e o navio mercante Sea Pearl.
Informa a Marinha Portuguesa que o pedido de auxílio chegou a Ponta Delgada através do MRCC Falmouth, na costa sul da Cornualha, Reino Unido, que o terá recebido pelas 00h10. Quando estavam em apuros a tripulação começou por acionar o sistema que reporta a localização da embarcação e ligou através de um telefone satélite para a Guarda Costeira britânica. A força do vento e as vagas afastaram rapidamente o náufrago da embarcação. Todos os esforços para dar meia volta e ir ao encontro de Michael Johnson revelaram-se infrutíferos. Chegaram a lançar uma balsa salva-vidas à agua para tentar travar Toby Wallace, na esperança de que o jovem conseguisse nadar até ela.
O primeiro avião a chegar ao local foi o Falcon 50, que pelas 10h50 e estabeleceu contacto com a tripulação. O Lockheed P-3C CUP+ da Força Aérea Portuguesa chegou às 14h35 e permaneceu na área de busca até às 16h15. Durante este período com vento de 40 quilómetros de nordeste e ondulação com cerca de três metros do mesmo quadrante, a aeronave cobriu uma área de 2250 milhas náuticas quadradas (7717 quilómetros quadrados), qualquer coisa como uma vez e meia a área do Algarve. Nenhum destes aviões conseguiu localizar o tripulante desaparecido.
Também o carregueiro Sea Pearl, a quem o MRCC Delgada pediu que fosse em auxílio do Toby Wallace quando se encontrava a navegar a cerca de 127 minhas náuticas (235 quilómetros) de distância não avistou o náufrago. Pelas 18h20 o navio terminou as buscas e iniciou a manobra de resgate da tripulação, concluída pelas 18h50. Na primeira escala há de devolvê-los a terra firme.
“Considerando o esforço de busca realizado pelos diversos meios empregues e o grau de probabilidade de encontrar o náufrago, altamente condicionado pelo facto de na altura da queda ao mar não estar a envergar colete salva-vidas, o MRCC Delgada deu por terminadas as buscas”, informa a Marinha em comunicado.
A aventura até corria a bom ritmo, informa a empresa Oceanus Rowing que promove este tipo de desafios fornecendo a embarcação a remos oceânica e apoiando a tripulação – formada por “pessoas comuns” que querem “uma oportunidade extraordinária para viver o desafio das suas vidas e ir para além dos limites físicos e psicológicos”, pode ler-se no site desta empresa.
Desta feita seguiam a bordo do Toby Wallace, sete britânicos e uma francesa, a saber: Simon Chalk (43 anos), Graham Walters (68 anos), Roger Davies (68 anos), Murray Faber (20 anos), Iwan Hughes (35 anos), Mike Johnson (21 anos), Richard Wattam (50 anos) e Dolores Desclaveliere (48 anos).
Tinham largado da Marina Puerto de Mogan, na Grã-Canária a 29 de janeiro com destino às Barbados e a 11 de fevereiro (a 1573 milhas, cerca de 2358 quilómetros, do destino) a embarcação alcançou uns impressionantes 17,8 nós (33 quilómetros/hora) a ‘surfar’ algumas ondas em pleno oceano. Depois de terem conseguido reparar o leme no dia anterior (a bordo seguem várias peças sobresselentes para qualquer eventualidade), a Oceanus Rowing estimava agora que, apesar deste contratempo, seria possível voltar a sonhar com o recorde. Cada membro da tripulação rema quatro horas e descansa outras quatro. Noite e dia.
Quando foi lançado à água em finais de 2011 esta embarcação foi originalmente batizada como Titan. Concebida para poder percorrer cada milha náutica (1852 metros) em menos de quatro minutos e, a este ritmo, atravessar a remos o Atlântico em menos de 30 dias (até agora nunca o conseguiu como veremos mais adiante), em 2014 recebeu o nome de um dos seus primeiros tripulantes a tentar a proeza (ainda em 2012), que viria a falecer em julho de 2013 numa prova de ciclismo.
Informa a Oceanus Rowing que Toby Wallace já realizou quarto travessias bem-sucedidas. Em 2012 levou 34 dias, 15 horas e 31 minutos e em 2013 demorou mais 22 horas. No ano de 2014 fê-los por duas vezes: na primeira, em fevereiro, levou 32 dias, 22 horas e 31 minutos (não constitui recorde porque o que conta é a média horária) e na segunda, em novembro, 39 dias, 23 horas e 21 minutos.
Já agora, o atual recorde está na posse da guarnição formada por seis elementos da embarcação Sarah G, comandados por Britt Matt Craughwell, que em 8 de fevereiro de 2011 chegaram o porto de Saint Charles nas Barbados 33 dias, 21 horas e 46 minutos depois de terem largado a 5 de janeiro de Tarfaya, em Marrocos, realizando uma impressionante média de 3,386 nós/hora (6,3 quilómetros/hora) (Expresso)

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