segunda-feira, 27 de julho de 2015

Entrevista da TVI (surpreendida...): Ex-dirigente do BE no painel que fez perguntas a Passos

"Rodrigo Rivera, 28 anos, licenciado em Ciência Política, esteve emigrado um ano e meio no Brasil, voltou e está a trabalhar num call center." Foi assim que José Alberto Carvalho apresentou o "cidadão" que iria questionar o primeiro-ministro, no programa Tenho Uma Pergunta para Si, transmitido na quinta-feira na TVI. O que não foi dito, nem assumido pelo próprio, é que Rivera fora até há quatro anos dirigente do BE e é militante. Entre a entourage de Passos Coelho, que estava no estúdio, a intervenção de Rivera causou mal-estar, pelo tom politizado, pouco habitual entre os outros participantes. Nas redes sociais, a identificação do bloquista fez disparar os comentários sobre a isenção da estação televisiva na escolha do painel de dez pessoas que fizeram as perguntas. A Direção de Informação da TVI garante que desconhecia a militância de Rodrigo Rivera. "Nunca perguntamos às pessoas que escolhemos de que partido são", garantiu o subdiretor de Informação António Prata. "Quis simplesmente fazer uma pergunta, com base na minha experiência, com a qual milhares de outros portugueses se identificam: o de terem sido obrigados a emigrar e estarem sujeitos a trabalho precário e a desemprego", disse ao DN o bloquista, assegurando que "não foi mandatado pelo BE".
A pergunta saiu simples e direta: "O que fiz eu de errado para acordar do lado errado da realidade, que não é o seu lado?" Mas só depois de muita insistência de José Alberto Carvalho, porque já tinha excedido largamente o tempo definido para as questões, que é de um minuto. Rodrigo, que até há quatro anos fez parte da Mesa Nacional do BE, o órgão dirigente do partido, começou por salientar que a "realidade" que Passos Coelho vivia não era a sua "realidade". De seguida, gastou três minutos a discursar sobre os problemas de quem teve de emigrar, sobre os estágios profissionais para "mascarar" as taxas de desemprego, sobre a falta de oportunidades para os licenciados, mas também sobre os "a realidade dos dez mil novos milionários que surgiram em Portugal, em 2014", mais o "Zeinal Bava, Oliveira Costa" e "a realidade do seu [de Passos] amigo Dias Loureiro". Alberto Carvalho tentou interrompê-lo em quatro ocasiões, pois já tinha ultrapassado em muito o tempo previsto, mas Rodrigo ignorou. Nos bastidores, a delegação do primeiro-ministro agitava-se.
Passos Coelho não se mostrou perturbado, começando por dizer a Rodrigo que não estava "numa realidade diferente" da sua, reconhecendo o desemprego "elevado" e a "crise séria" que o país passou. Mas o seu instinto político deu sinal. "O Rodrigo faz parte de uma realidade que conheço e tenho trabalhado todos estes anos para que esta situação seja superada. Não sei qual a sua orientação política ou partidária, é-me indiferente para esse efeito", sublinhou. António Prata explicou ao DN que a maioria das pessoas que fazem as perguntas aos entrevistados, no caso de Passos e de Costa, foram antes "entrevistadas para umas peças, que têm estado a ser transmitidas, no âmbito da preparação para as eleições, sobre as várias experiências das pessoas durante a austeridade". Como se pretendia que as perguntas "também refletissem essas vivências pessoais e profissionais, foi decidido aproveitar essas pessoas". Foi o caso de Rodrigo Rivera, cuja peça foi para o ar há cerca de dois meses. Prata nota, no entanto, que o bloquista "faltou à reunião prévia de preparação das intervenções no dia do programa". Por isso reconhece que, apesar de saberem qual era o tema, desconheciam "a sua intervenção". O subdiretor assinala, no entanto, que não pensa "alterar os critérios de seleção nem passar a interrogar sobre as escolhas partidárias das pessoas". Rodrigo Rivera aplaude. "Era só o que faltava, estaríamos a voltar a 24 de abril de 1974", assevera. "Sou um militante de base. A minha pergunta foi legítima, sobre as dificuldades que passei. Simplesmente" (texto da jornalista do DN-Lisboa, Valentina Marcelino)


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