quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Um terço da Comissão Barroso saltou para grandes multinacionais

Um estudo sobre transparência, publicado hoje pelo observatório "Corporate Europe", torna evidente a enorme porta giratória entre os cargos institucionais europeus e o sector privado. E, nesse campo, a antiga Comissão Barroso domina. Dos 26 antigos comissários europeus de Durão Barroso, que terminaram o mandato em 2014, pelo menos nove saltaram para empresas privadas e organizações ligadas a grandes multinacionais. Os ex-comissários acumulam um total de 115 novas funções entre si, entre membros de conselhos executivos de multinacionais, consultores e até eurodeputados com interesses empresariais. E há também que incluir nesta lista o próprio Durão Barroso que, além de estar ligado ao clube Bilderberg, acumula mais 21 outras funções, desde organizador de conferências e orador em palestras em Washington - todos eles aprovados à luz das regras de ética da Comissão.
Os exemplos são vários, mas há quatro em particular que preocupam o observatório, porque os ex-comissários têm nas suas novas funções pastas com ligações aos seus anteriores trabalhos na Comissão. Viviane Reding, por exemplo, que esteve à frente da Justiça, Direitos Fundamentais e Cidadania, e agora é eurodeputada pelo Luxemburgo, aceitou uma posição no conselho executivo da tecnológica Agfa-Gevaert. A nomeação foi aprovada pelo conselho de ética da Comissão Europeia, desde que Reding, evite "fazer lobby" pelos interesses da empresa junto de Bruxelas.
Também Karel De Gucht, ex-comissário para o Comércio, que lançou as primeiras pedras do acordo transatlântico, tem acumulado vários cargos de consultoria. E pertence aos quadros da telecom belga Proximus, trabalhando também para a Capital Partners, uma empresa de 'private equity'. Já Siim Kallas, o antigo comissário estónio para os Transportes, que mantém ligações a Bruxelas, é consultor da empresa de tecnológia Nortal. Por fim, a holandesa Neelie Kroes, antiga comissária para a Agenea Digital, é consultora especial do Bank of America Merrul Lynch. A esmagadora maioria das novas funções dos antigos comissários - 96 num total de 115 - foram aprovadas pela comissão de ética da Comissão, mas o observatório questiona a transparência das mesmas. O 'lobbying' está regulamentado em Bruxelas, mas o observatório quer reforçar algumas regras como, por exemplo, o tempo em que os antigos detentores de cargos institucionais não podem fazer 'lobby' empresarial junto da Comissão. As actuais regras estipulam 18 meses - daí a antiga Comissão Barroso poder começar a fazer 'lobby' a partir do início do próximo ano -, mas o observatório tem defendido o aumento do prazo para três anos, pelo menos (texto do jornalista do Económico, Luís Reis Pires)

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