sexta-feira, 30 de outubro de 2015

PS e esquerda negoceiam 4000 milhões de euros em medidas

Sete medidas, se concretizadas como pretendem CDU e BE, levam a um aumento de despesa/redução de receita, embora possam ter um efeito positivo na economia, no curto prazo, porque impulsionam o rendimento disponível. PS, CDU e BE continuam empenhados em convergir o máximo possível de maneira a encontrar um plano entendimento que possam levar ao Presidente da República caso, como se prevê, o novo Governo PSD-CDS seja derrubado com a aprovação de moções de rejeição ao seu programa. O chumbo deve acontecer entre 9 e 10 de novembro, altura para a qual foi agendada a discussão parlamentar desse documento para a legislatura. O acordo político à esquerda também será conhecido nesses dias, disse esta quarta-feira Carlos César, presidente do grupo parlamentar do PS, mas já há números que podem servir de balizas à negociação das próximas duas semanas. As três forças políticas mais à esquerda estão a negociar qualquer coisa como quatro mil milhões de euros em medidas, o que mostra a complexidade da situação. Este texto é um guia sobre oito das mais significativas que estão em cima da mesa de António Costa, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins. Sete das medidas em discussão podem levar a um aumento imediato de despesa/redução de receita na ordem dos 3,4 mil milhões de euros, mas têm impacto positivo no rendimento das pessoas
Sete delas, se concretizadas como pretendem CDU e ou BE, traduzem-se num aumento imediato de despesa/redução de receita na ordem dos 3,4 mil milhões de euros, embora devam ter um efeito positivo sobre a economia e o rendimento dos portugueses. Aliviam impostos e repõem cortes de salários e pensões. Apenas uma delas — a manutenção da Taxa Social Única (TSU) de empregados e empregadores nos níveis atuais, algo que vale 633 milhões no OE face ao cenário preferido pelo PS — não implica uma erosão imediata do défice orçamental; mas mantém o financiamento da Segurança Social relativamente estável. Maior parte dos valores aqui em causa foram retirados das estimativas que constam do “Estudo sobre o impacto financeiro do programa eleitoral do PS” e de declarações públicas de membros do Governo.
1. Reposição total dos salários da função pública num só ano: 800 milhões
Eliminar de forma integral os cortes salariais aplicados aos funcionários públicos custa cerca de 800 milhões de euros num ano. O Governo diz menos, cerca de 600 milhões de euros a mais na despesa; o PS fala em 430 milhões. Pedro Passos Coelho queria fazer uma devolução faseada, a um ritmo de 20% ao ano, pelo que só em 2019 é que a situação normalizaria. O plano inicial do PS era devolver em dois tempos (2016 e 2017). Mas BE e CDU defendem que tem de ser tudo reposto em 2016. O que até pode ser visto como uma concessão importante já que os cortes foram considerados ilegais e a esquerda sempre se mostrou violentamente contra eles.
2. Fim total da sobretaxa do IRS num só ano: 800 milhões
Também aqui o plano do PS era eliminar a sobretaxa do IRS em duas fases, mas se tudo fosse normalizado no ano que vem a medida custaria 800 milhões de euros (menos receita). O Governo diz cerca de 700 milhões e tem um plano mais intrincado. Para não devolver demasiado criou um travão: o crédito fiscal que depende da coleta de receita do IRS e do IVA do ano anterior. Antes das eleições apontava para uma descida da sobretaxa de 3,5% para 2,3% em 2016. Na semana passada, o valor recuou de forma abrupta: com o que se sabe da coleta fiscal até setembro dos dois impostos, a sobretaxa já só cai para 3,2%. Um alívio residual.
3. Remoção total dos cortes nas pensões num só ano: 250 milhões
António Costa quer manter as pensões congeladas, à exceção das mínimas, medida que ajuda a conter o défice; a esquerda exige menos austeridade. Não manter o congelamento dá 250 milhões de euros a mais na despesa de 2016. Ou mais 525 milhões de euros ao fim de três anos. Já a maioria de direita (PSD-CDS) quer um corte permanente no sistema de pensões na ordem dos 600 milhões. O PS quer ainda poupar 180 milhões com a introdução da condição de recursos nas prestações não contributivas da Previdência.
4. Descida do IVA da restauração: 260 milhões
Outra das medidas polémicas é o IVA da restauração, que subiu de 13% para 23% a 1 de janeiro de 2012, uma medida de austeridade do então ministro das Finanças, Vítor Gaspar. Agora, o PS propõe eliminá-la, calculando um impacto de menos 350 milhões de euros na receita, em termos brutos. Eventualmente, o custo será um pouco menor, uma vez que pode haver mais consumo. O PS calibra esse efeito e fala de uma perda efetiva de 260 milhões de euros. O Governo diz que baixar o IVA custa 175 milhões ao ano.
5. Descida do IVA da eletricidade e do gás para 6%: 100 milhões
Foi mais uma medida do “enorme aumento de impostos “ de Vítor Gaspar, austeridade que seria ainda agravada em 2012 com a criação da sobretaxa, a revisão dos escalões do IRS e reclassificações de bens na estrutura do IVA. No último trimestre de 2011, o IVA da eletricidade e do gás subiu de 6% (taxa reduzida) para 23% (máxima). Segundo as contas do Governo, na altura, a medida “prevista no memorando de entendimento, mas antecipada de 2012 para o último trimestre de 2011” terá gerado cerca de 100 milhões de euros em receita adicional. Será esse o alívio agora se cair como quer a esquerda.
6. Manter TSU dos trabalhadores e empresas: 633 milhões
Uma das medidas de proa do programa do PS é a redução da contribuição patronal para a Segurança Social e o corte “temporário” dos descontos dos trabalhadores para acelerar a criação de emprego e aumentar o rendimento disponível das famílias. A esquerda repudia a ideia porque a medida leva a um rombo na receita da Previdência e, a prazo, a cortes nas pensões futuras. Segundo o PS, descer as duas TSU como quer o PS custa 283 milhões em receita de contribuições patronais mais 350 milhões por via da não redução da taxa dos empregados. Total em 2016: 633 milhões.
7. Reversão das concessões das empresas de transportes urbanos: 335 milhões
PS, PCP e BE estão contra as concessões nos transportes públicos de Lisboa e Porto. O Bloco chegou a anunciar a uma ação popular junto do Supremo para travar a privatização da Carris e do Metro de Lisboa. Quanto custa anular o negócio? Não se sabe. Os valores dos contratos da STCP e do Metro do Porto, concessionadas à Alsa e à Transdev, não foram divulgados; a Avanza pagou 625 milhões pelo contrato da Carris e 450 milhões pelo Metro. Certo é que o Governo prevê poupanças de 335 milhões de euros com este processo.
8. Eliminação das taxas moderadoras do SNS: 169 milhões

Este é o valor previsto em receita este ano (OE/2015) com as taxas moderadoras que são cobradas aos utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Um valor residual à luz do orçamento da Saúde, que ascende a 8,8 mil milhões de euros. O valor da receita em 2014 foi maior (cerca de 180 milhões) mas porque o governo baixou algumas taxas e criou mais isenções. O programa do PS fala em reduzir as taxas moderadoras, CDU e o BE exigem, desde sempre, a sua eliminação pura e simples. É uma das medidas mais espinhosas na negociação entre as três forças políticas, aliás (Dinheiro Vivo, pelo jornalista Luís Reis Ribeiro)

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