sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Canadiano acusado de manipular a crise portuguesa e ganhar quase 12 mihão com isso

Um canadiano, referenciado pelo Ministério Público (MP) como um “académico prestigiado, doutorado em economia pela Universidade de Harvard”, foi acusado pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa pelo crime de manipulação de mercado, de acordo com o comunicado publicado na página da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa. Segundo o MP, o arguido pretendia a “desvalorização das obrigações do tesouro portuguesas”, tendo ficado indiciado, para a investigação, que “este arguido era à data (Abril de 2010), administrador de uma sociedade que prestava serviços de consultadoria de investimento e de gestão de carteiras sobre investimentos financeiros a uma outra sociedade gestora de fundos de investimento especulativo (hedge fund)". O suspeito, que terá conseguido com esta actuação cerca de 820 mil euros em mais-valias, tinha "interesse na desvalorização da dívida portuguesa e na subida dos yields [taxa de juro implícita], uma vez que só a respectiva desvalorização permitia recuperar a dívida (encerrar a posição curta) com mais-valias e potenciar os seus ganhos". “Com esta finalidade publicou vários artigos em blogs, sendo um deles associado a um jornal de referência mundial, no período compreendido entre Fevereiro e Abril de 2010. Os artigos de opinião tiveram impacto nas yields da dívida pública portuguesa, influenciaram os investidores, até porque o arguido era um académico prestigiado, doutorado em economia pela universidade de Harvard e os artigos foram publicados em contexto de grande instabilidade financeira, de receio de contágio com a dívida grega, estando os mercados em situação de elevada susceptibilidade”, refere o DIAP de Lisboa. A investigação, a cargo da 9ª secção do DIAP de Lisboa, contou com o apoio técnico do regulador do mercado de capitais, a CMVM. De acordo com comunicado do DIAP, esta é uma "acusação por crime com contorno inéditos".
Juros a disparar

O ano de 2010, após a crise financeira de 2008 iniciada nos Estados Unidos, foi marcado pela desconfiança dos investidores em relação à Grécia, após este país ter revelado que o défice era bastante superior ao esperado. Com menos liquidez no mercado, os investidores começaram a ter dúvidas sobre a capacidade de pagamento de dívidas do país, enquadrada por falta de apoio dos parceiros europeus. A desconfiança alastrou rapidamente a outros mercados, com especulação à mistura, e Portugal entrou também no radar. Se no início do ano a taxa implícita dos Obrigações do Tesouro a dez anos estavam nos 4,061 euros no mercado secundário (onde a dívida é comprada e vendida entre investidores), depressa começou a subir. Isto é, havia quem quisesse vender, e os compradores exigiam um maior retorno devido à subida do risco, encarecendo depois o financiamento do Estado. No mês de Janeiro as taxas de juro deixaram para trás os 3%, chegando aos 5% em Abril. Só em Abril, as taxas de juro subiram 23%, passando de 4,187% para 5,154. A tendência de agravamento manteve-se, e, em 2011, incapaz de se financiar, o país teve de solicitar a intervenção da troika de credores formada pelo FMI, BCE e Comissão Europeia (Público)

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