Com toda a tranquilidade e com facilidade q.b. Gustavo Veloso
teve neste domingo, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, a esperada consagração.
O ciclista da W52-Quinta da Lixa conquistou a camisola amarela logo à segunda
etapa da Volta à Portugal, na serra do Larouco, e o único que foi fazendo
sombra a Veloso foi Delio Fernández, que nunca colocou em risco a vitória do
seu companheiro de equipa. O espanhol, no entanto, não teve direito ao
tradicional espumante: antes mesmo de os ciclistas cortarem a meta em Lisboa, a
organização anunciou que não haveria a tradicional celebração. Motivo? Um
protesto pelas opções editoriais dos jornais desportivos.
Peculiaridades do desporto português à parte, a 10.ª e última
etapa da 77.ª Volta a Portugal não trouxe nenhuma hecatombe para Gustavo
Veloso, que confirmou o seu segundo triunfo consecutivo na competição ao cortar
a meta na 31.ª posição, a nove segundos de Matteo Maluccelli. Com apenas 21
anos, o italiano cumpriu os 132,5 quilómetros da etapa, decidida ao sprint,
praticamente a par do seu colega de equipa e conterrâneo Davide Vigano, a quem
“traiu”. “A etapa era para o Vigano, que era o mais forte. No final, eu estava
bem e nos últimos 200 metros tentei a minha sorte. A 50 metros, olhei para o
lado, vi o Vigano mais atrás e não soube o que fazer. A etapa deveria ter sido
para ele, que é superior e mais velho, eu sou um miúdo”, afirmou no final o
italiano. Os holofotes estavam, no entanto, apontados para Gustavo
Veloso. Mantendo a tradição recente, a Volta a Portugal voltou a ser ganha por
um galego (é o quarto ano consecutivo) e o ciclista da W52-Quinta da Lixa
repetiu o feito do ano passado. E a explicação para o domínio da Galiza na
competição portuguesa foi deixada pelo vencedor no final: “Muitos de nós
aprendemos a ser ciclistas em Portugal, é aqui que temos essa oportunidade. O
que somos hoje deve-se a Portugal. É preciso sacrificar muitas coisas na vida.
Sacrificamos o tempo com a mulher e com os filhos em prol de estágios, para
estarmos na melhor forma. Se a Volta não fosse tão importante como é para mim,
não sacrificaria todas essas coisas.” Sobre o futuro e um hipotético “tri” no próximo ano o ciclista,
natural de Villagarcia de Arosa, não revelou se voltará a correr na Volta a
Portugal — “Nem sei onde vou estar hoje, quanto mais no próximo ano” —, mas
descartou qualquer possibilidade de conseguir igualar o recorde de cinco provas
ganhas por David Blanco: “Não é um objectivo para mim, já tenho 35 anos e não
sei quantos mais vou correr.”
“Azeiteiros e broncos”
O protagonismo do último dia não foi, todavia, apenas para
Matteo Maluccelli e Gustavo Veloso. Para além de anunciar que a 78.ª edição da
competição vai terminar com um contra-relógio que ligará Vila Franca de Xira e
Lisboa, a organização da Volta, liderada pelo antigo ciclista Joaquim Gomes,
resolveu insurgir-se contra “as primeiras páginas dos jornais desportivos” que
dão “eco a modalidades recheadas de azeiteiros, que é como quem diz broncos”,
privando os ciclistas, que terão concordado com a medida, do tradicional
espumante no final. “O público português não é tão estúpido assim para estar a
levar com polémicas com o Jorge Jesus ou com o treinador do Benfica, ou com o
jogador que estava para vir e já não vem, isso não é desporto”, acrescentou o
director da Volta em conferência de imprensa. Restou, por isso, a Gustavo Veloso festejar convenientemente em
Sobrado, vila do concelho de Valongo que organizou para o início da madrugada
deste domingo uma recepção à equipa da W52-Quinta da Lixa, que tem sede nesta
localidade. E o espumante deve faltar (texto do jornalista David Andrade
do Publico, com a devida vénia)


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