sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Opinião: "A comunicação é política"

Um bom cartaz de propaganda eleitoral dificilmente fará ganhar umas eleições. Mas um mau cartaz pode contribuir, decisivamente, para comprometer as aspirações de um partido, quando uma corrida se disputa ombro a ombro.
Na política, todas as dimensões  da mensagem contam. Os discursos, os contactos cara-a-cara, as visitas, os cartazes, os anúncios  na televisão, as entrevistas,  os debates e os frente-a-frente.
Quando num destes planos, os partidos revelam desconformidades entre a narrativa apresentada  e a realidade, o preço a pagar  é o da confiança.
Evidentemente, os "detalhes" dos cartazes, aqueles que têm sido notícia este Verão, não vão pôr em risco a relação dos partidos com  os seus fiéis que irão, seguramente, desvalorizar o facto. Para estes, o que interessa é o essencial  da mensagem, aquilo que ela representa: o problema de muitos jovens que tiveram de emigar e o drama do desemprego que atinge uma larga fatia da população. Para os fiéis, isso é o mais importante e não tanto a história da Maria-que-está-desempregada que, afinal, não está; ou o caso do Zé-que-foi-obrigado-a-emigrar e que,  afinal, nunca saiu do país.
Para os indecisos, já pode não ser bem assim. Expostos a uma série  de mensagens políticas, cada  uma delas conta para formar a sua opinião. Ora, casos como estes, podem suscitar o problema da confiança que se traduz na resposta à pergunta: "Será que posso acreditar?". Esta variável -  a confiança, é fundamental no momento de formular a decisão  de voto.
É, portanto, sobretudo entre  os indecisos que os "detalhes" dos cartazes podem ter algum impacto e isso, é tanto mais importante, no actual momento político, quanto as sondagens mostram que essa fatia do eleitorado atinge valores  na ordem dos 20 a 25%.
É verdade que a intensidade  da campanha eleitoral, depois das curtas férias, vai agora aumentar bastante. E, provavelmente, daqui  a um mês, quando outros temas e outros casos mobilizarem a agenda dos media e dos políticos, serão poucos os que se lembram dos incidentes com uns cartazes, que  se verificaram nos idos de Agosto.
No entanto, estes casos são um primeiro aviso. Numa campanha  tão disputada, os erros, as falhas, as inverdades, as desconformidades narrativas, por mais pequenas  que sejam, poderão ganhar  uma dimensão inesperada.
A juntar a isto, há que contar, como nunca antes, com o impacto tremendo das redes sociais. As redes aceleram e amplificam os casos dando-lhes uma dimensão  tal que, muitas vezes, "parece  que o mundo vai acabar amanhã".
É evidente que o papel dos media é, justamente, fazer a ponderação  e estabelecer a diferença entre aquilo-que-é-verdadeiramente-importante e aquilo-que-é-apenas-mais-falado ou mais-comentado. Mas há histórias  que se tornam de tal modo avassaladoras nas redes sociais  que, por isso mesmo, é impossível escapar-lhes, sobretudo num ciclo informativo permanente, 24 sobre 24 horas.

Para os partidos, o desafio  de uma campanha é sempre extraordinário. Mas a comunicação política é demasiado importante para ficar exclusivamente nas mãos de publicitários. Por uma razão muito simples: a comunicação  é política (texto do jornalista da RTP, Vitor Gonçalves, no Económico, com a devida vénia)

Sem comentários:

Enviar um comentário