Um bom cartaz de
propaganda eleitoral dificilmente fará ganhar umas eleições. Mas um mau cartaz
pode contribuir, decisivamente, para comprometer as aspirações de um partido,
quando uma corrida se disputa ombro a ombro.
Na política, todas as
dimensões da mensagem contam. Os
discursos, os contactos cara-a-cara, as visitas, os cartazes, os anúncios na televisão, as entrevistas, os debates e os frente-a-frente.
Quando num destes
planos, os partidos revelam desconformidades entre a narrativa apresentada e a realidade, o preço a pagar é o da confiança.
Evidentemente, os
"detalhes" dos cartazes, aqueles que têm sido notícia este Verão, não
vão pôr em risco a relação dos partidos com
os seus fiéis que irão, seguramente, desvalorizar o facto. Para estes, o
que interessa é o essencial da mensagem,
aquilo que ela representa: o problema de muitos jovens que tiveram de emigar e
o drama do desemprego que atinge uma larga fatia da população. Para os fiéis,
isso é o mais importante e não tanto a história da Maria-que-está-desempregada
que, afinal, não está; ou o caso do Zé-que-foi-obrigado-a-emigrar e que, afinal, nunca saiu do país.
Para os indecisos, já
pode não ser bem assim. Expostos a uma série
de mensagens políticas, cada uma
delas conta para formar a sua opinião. Ora, casos como estes, podem suscitar o
problema da confiança que se traduz na resposta à pergunta: "Será que
posso acreditar?". Esta variável -
a confiança, é fundamental no momento de formular a decisão de voto.
É, portanto, sobretudo
entre os indecisos que os
"detalhes" dos cartazes podem ter algum impacto e isso, é tanto mais
importante, no actual momento político, quanto as sondagens mostram que essa
fatia do eleitorado atinge valores na
ordem dos 20 a 25%.
É verdade que a
intensidade da campanha eleitoral,
depois das curtas férias, vai agora aumentar bastante. E, provavelmente,
daqui a um mês, quando outros temas e
outros casos mobilizarem a agenda dos media e dos políticos, serão poucos os
que se lembram dos incidentes com uns cartazes, que se verificaram nos idos de Agosto.
No entanto, estes
casos são um primeiro aviso. Numa campanha
tão disputada, os erros, as falhas, as inverdades, as desconformidades
narrativas, por mais pequenas que sejam,
poderão ganhar uma dimensão inesperada.
A juntar a isto, há
que contar, como nunca antes, com o impacto tremendo das redes sociais. As
redes aceleram e amplificam os casos dando-lhes uma dimensão tal que, muitas vezes, "parece que o mundo vai acabar amanhã".
É evidente que o papel
dos media é, justamente, fazer a ponderação
e estabelecer a diferença entre aquilo-que-é-verdadeiramente-importante
e aquilo-que-é-apenas-mais-falado ou mais-comentado. Mas há histórias que se tornam de tal modo avassaladoras nas
redes sociais que, por isso mesmo, é
impossível escapar-lhes, sobretudo num ciclo informativo permanente, 24 sobre
24 horas.
Para os partidos, o
desafio de uma campanha é sempre
extraordinário. Mas a comunicação política é demasiado importante para ficar
exclusivamente nas mãos de publicitários. Por uma razão muito simples: a
comunicação é política (texto do jornalista da RTP, Vitor Gonçalves, no Económico, com a devida vénia)
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