quinta-feira, 14 de maio de 2015

Como Governo e PS gerem o tema central nas eleições: a economia

"A cinco meses das eleições legislativas, a maioria PSD/CDS e o PS limpam as armas para o principal campo de batalha na campanha: a economia. O INE confirmou ontem o sexto trimestre consecutivo de crescimento económico que, apesar dos riscos externos, leva vários economistas a antever um ritmo anual próximo de 2% - por outro lado, as marcas sociais deixadas pela crise continuam a ser profundas. Como é que os dois principais blocos políticos vão usar a economia no debate das legislativas? E para que lado penderá a balança dos eleitores? As reacções políticas ontem aos valores dão uma indicação do que vão ser os próximos meses na batalha dos argumentos.
Do lado do Governo e da maioria, a mensagem é apenas uma: defender a solidez do crescimento pós-‘troika' e atacar o que classificam de "saltos no escuro" propostos pelo PS. Este "é um crescimento sem criar desequilíbrio externo, sem acrescentar dívida à economia portuguesa", realçou ontem Passos Coelho. Antes, já o líder da bancada parlamentar do PSD, Luís Montenegro, tinha destacado o "modelo económico que passa pelo aumento das exportações e a diminuição das importações".
O crescimento acima do ritmo previsto de 1,6% - um cenário considerado por vários economistas (ver texto ao lado) - acontece em paralelo com um a previsão de excedente externo de 2% do PIB este ano e de excedente orçamental primário (sem juros) de 2,2%. No último boletim económico, o Banco de Portugal defendeu que a recuperação económica com contributo do consumo privado não põe em causa o equilíbrio das contas externas. Excedentes e equilíbrios orçamentais não fazem um ponto fácil de vender a um país marcado pela crise, mas o Governo acredita que os eleitores mudaram - e que as eleições no Reino Unido, em que os conservadores pró-austeridade tiveram uma vitória surpreendente, o demonstram.
"Nos últimos anos as pessoas passaram a olhar para as questões económicas com outros olhos, sobretudo as pessoas comuns", afirma fonte governativa. Outra fonte destaca que a análise política e as sondagens não captam esta evolução. A ideia é defender o legado ("quando entrámos a economia estava a cair e agora cresce numa situação de equilíbrio como nunca se viu antes") e tentar capitalizar esta percepção de desconfiança face a caminhos mais fáceis rotulados como "ilusões" - o ataque feito às propostas do PS.
Do lado do PS a tónica será colocada por um lado na credibilização das suas propostas - iniciada com o relatório dos 12 economistas publicado no mês passado - e, por outro, no ataque ao impacto na vida das pessoas da política dos últimos anos. Este "é um crescimento modesto e não responde a enormes défice sociais criados pela política da coligação de direita", afirma ao Diário Económico o líder parlamentar do PS, Ferro Rodrigues. "A verdade social é mais forte e o nosso papel é o de responder à propaganda com a realidade". O PS tem centrado a sua mensagem nos indicadores do mercado de trabalho, que continua numa situação difícil. Apesar de o desemprego ter diminuído do pico de quase 18% no início de 2013, o Governo prevê este ano uma taxa ainda elevada, de 13,2%. O desemprego de longa duração atinge quase dois terços das pessoas oficialmente sem trabalho. Estes números surgem em paralelo com a persistência das dificuldades financeiras das famílias - no primeiro trimestre cerca de 14.600 famílias entraram em incumprimento nos seus créditos. Para o PS, o crescimento defendido pelo Governo como estrutural é insuficiente para recuperar emprego e resulta de "ventos favoráveis soprando do BCE e do preço do petróleo", ou seja, da conjuntura externa. Para os analistas ouvidos pelo Diário Económico, que destacam a economia como "o tema fundamental da campanha", a reacção dos eleitores depende da velocidade a que o crescimento chegar ao mercado de trabalho e ao bolso das pessoas. "O crescimento é muito positivo para o Governo, mas não sei até que ponto uma previsão de 1,6% será um argumento de força", afirma o politólogo Carlos Jalali. "Mas será importante a forma como o crescimento se vai traduzir na economia real do cidadão comum", acrescenta. António Costa Pinto alinha no mesmo raciocínio, mas revela-se mais céptico sobre a eficácia da argumentação do Governo. "A retoma tem-se processado, mas o impacto sobre a vida das pessoas, a nível salarial ou de rendimento disponível, ainda não se reflecte", afirma. "É muito pouco provável que haja uma revolução de indicadores nos próximos três meses e muito dificilmente a coligação ganhará as eleições - a única diferença poderá estar no grau da punição", prevê" (fonte: Económico)

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