As sondagens e as ‘tracking polls' invadiram o espaço mediático. As televisões e as rádios juntaram-se para transmitir os debates que as principais candidaturas, a custo, aceitaram fazer. Os programas eleitorais do PS e da coligação foram submetidos a minuciosos ‘fact checking'. A cobertura mediática da campanha eleitoral - a primeira a ser regulada pela nova lei, aprovada pela maioria PSD/CDS - termina hoje. Foi mais esclarecedora para os eleitores? As opiniões dividem-se. E se não é certo que tenha beneficiado os maiores partidos, não há dúvidas de que os mais pequenos saíram prejudicados. São os "custos" da liberdade editorial. Felisbela Lopes e Azeredo Lopes constatam que as candidaturas sem assento parlamentar perderam espaço mediático. Mas se a professora da Universidade do Minho acredita que "não se pode tratar de forma igual o que não é igual" e que "os pequenos partidos não podem olhar para as rádios, televisões e jornais como tábuas de salvação", o professor da Universidade Católica alerta para o facto de ser cada vez mais difícil a novas estruturas partidárias crescerem e terem visibilidade.
Azeredo Lopes dá o exemplo das sondagens - elemento central desta cobertura que, de acordo com a consultora Cision, ocupou 32 horas de emissão das rádios e televisões nos últimos dez dias (ver caixa) - onde apenas são referidas as forças partidárias com assento parlamentar, enquanto as mais pequenas "foram remetidas para o quarto dos fundos, para uma rubrica genérica chamada ‘outros partidos'". Para o ex-presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, "estabeleceu-se um sistema que sacrifica aqueles que podem vir a representar uma ameaça ao próprio sistema". Resultado? "Os pequenos partidos surgem quase sempre numa dimensão folclórica, associados ao que é engraçado", conclui, questionando se a "sobreposição" a que as principais candidaturas foram sujeitas não terá tido um efeito desmobilizador.
Felisbela Lopes faz um retrato mais positivo do trabalho dos media nas últimas semanas. Para a professora e autora de vários livros sobre jornalismo televisivo, tendo em conta que "o travão aos debates amputou a cobertura de um elemento fundamental", os meios de comunicação social fizeram "um trabalho equilibrado". "Não podemos ter os meios a fazer a cobertura das campanhas da coligação e do PS da mesma forma que fazem do Agir, por mais que isso custe aos pequenos partidos. Os partidos devem assimilar que o campo jornalístico não é um campo de propaganda eleitoral. É forçoso que seja assim, porque é aí que entra o critério editorial", argumenta. Perante uma campanha "pouco esclarecedora", Felisbela Lopes aponta o dedo aos partidos que, se por um lado, obrigaram os media a submeterem-se à sua vontade na questão dos debates, por outro, tornaram este período "muito maçador", com as tradicionais visitas a mercados "em que toda a gente está mais interessada em fazer um bom boneco para as televisões do que em ouvir as pessoas". Azeredo Lopes aponta ainda uma nova tendência "nascida" ao longo desta campanha para que vários órgãos de comunicação, sobretudo jornais, assumissem "um alinhamento claro". "Não considero que isso esteja errado. O passo seguinte, para mim, seria que os jornais fizessem uma declaração de interesses clara", defende (Económico, texto da jornalista Catarina Madeira)
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