sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Robôs ameaçam contas da Segurança Social

A sociedade como a conhecemos durante os últimos 200 anos está prestes a sofrer uma mudança radical, tal como sucedeu durante a 1.ª Revolução Industrial. Só que não vamos ter 150 anos para requalificar trabalhadores substituídos por máquinas. Até 2025, daqui a oito anos, um em cada três empregos terá sido substituído por robôs ou inteligência artificial, diz a consultora de tecnologia Gartner. São quase mais 1,4 milhões de desempregados, à escala de Portugal. Como pode a Segurança Social aguentar? “A sustentabilidade da Segurança Social está em risco já há algum tempo e a velocidade dessas mudanças só vai agravá-lo”, considera Carlos Pereira da Silva, professor de Economia e Finanças e especialista em Segurança Social. “Não vejo ninguém preocupado com isso em Portugal, não há nenhum comité a estudar o assunto. Já devíamos ter feito o que fez a Suécia, que mudou as regras e já não garante pensão às pessoas na idade da reforma”, considerou. Asimo é o humanóide mais avançado do Mundo.
O Parlamento pediu a uma série de especialistas para ir, esta terça-feira, dissertar sobre o tema “Era digital e robótica. Implicações nas sociedades contemporâneas”. Um dos oradores, João Barros, CEO da Veniam, a empresa do Porto que transformou os veículos públicos em “hotspots”, acredita que “em Portugal, sendo um país pequeno, poderá ser mais fácil gerir” a adaptação a uma nova realidade que eliminará empregos. “Terá de haver apoios sociais para as pessoas se requalificarem e sobreviverem”, ressalva. Perante a substituição de pessoas por robôs, há quem avance com a possibilidade de as empresas serem obrigadas a manter as contribuições à Segurança Social – disse-o a União Europeia e também Bill Gates, antecipando os efeitos de mais uma revolução industrial. “Não me parece que os empresários alinhem nisso. Afinal, os robôs implicam investimento. A Segurança Social é que terá de deixar de basear-se em postos de trabalho”, sugeriu Carlos Pereira da Silva. A historiadora Raquel Varela estudou a automação que substituiu estivadores em alguns portos e descobriu que, “depois de falhar, acabou afinal por trazer um aumento da precariedade dos estivadores”. Na opinião da investigadora, com a entrada dos robôs, “o ideal era haver redução de horário de trabalho, sem perda de remuneração”. A criação de um rendimento básico universal para apoiar a transição das pessoas menos qualificadas para os novos empregos, por exemplo, também não é consensual. “O trabalho é um direito”, defende Raquel Varela. “Pode ser uma forma de levar as pessoas a obter formação orientada para empresas tecnológicas”, aponta Carlos Pereira da Silva. “Vai ser muito rápido. As pessoas têm de sobreviver”, diz João Barros. Humanidade será mais rica e criativa O copo pode estar meio cheio ou meio vazio: os robôs podem substituir os homens e relegar a maioria da espécie humana à indigência ou podem substituir-nos nos trabalhos sem que percamos rendimento e, assim, podemos evoluir naquilo que a própria inteligência artificial jamais poderá superar. A capacidade de inovar, de emocionar, de estabelecer padrões ético-morais ou de resolver o impossível será – por agora – exclusiva dos homens. O Robear ajuda a levantar idosos ou acamados. Em 1930, sob forte pessimismo económico mundial, Keynes escrevia sobre “As possibilidades económicas para os nossos netos”. Imaginou um meio-termo entre a revolução e a estagnação que faria dos nossos netos mais ricos do que os avós. E os economistas atuais acreditam no mesmo. Ao aumentar a produtividade, a automação irá aumentar a rentabilidade e os rendimentos, bem como a procura de novos bens e serviços. A verdade é que a industrialização não eliminou a necessidade de trabalhadores humanos. Pelo contrário, criou oportunidades de emprego capazes de absorver o enorme aumento da população no século XX. Keynes tinha razão quanto a sermos mais ricos em 2030, dado o aumento exponencial dos rendimentos das famílias. Se há setores onde o potencial de automação é maior do que noutros, também pode dizer-se que nenhum é imune à revolução. Com o tempo, nascerão novos empregos em cada setor e um dos mais relevantes será o de manter os robôs e a inteligência artificial debaixo de olho (ainda que o cenário do “Exterminador implacável” seja improvável). O iPal canta, dança e conversa com os miúdos. Segundo a Federação Internacional de Robótica, a verdade é que os robôs têm criado emprego, e o exemplo vem do setor automóvel. “Os fabricantes alemães que investiram fortemente em automação mantiveram a liderança na qualidade e o setor continuou a aumentar o emprego”, refere. “As pessoas vão ter a oportunidade de fazer coisas novas a cada cinco anos”, remata João Barros, alertando que “já não há empregos para a vida”. Emprego: Será que o seu vai escapar? Depois de, nas duas primeiras revoluções industriais, as máquinas terem substituído o músculo, agora chegou a vez de substituírem a mente. Os trabalhos mais dependentes de dados (mas ainda repetitivos) ou que já são amplamente realizados online ou com recurso a software próprio (como analistas de crédito ou caixas de supermercado) serão os primeiros a desaparecer, mas a lista inclui outros como jornalistas, cozinheiros ou rececionistas (Dinheiro Vivo)

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