É Iuri Chaika quem empresta o apelido ao novo
vídeo das Pussy Riot, o coletivo feminista punk rock que em março de 2012
abalou a Rússia de Vladimir Putin com um concerto improvisado e não-autorizado
dentro da Catedral de Cristo Salvador de Moscovo. Se dessa vez o alvo da
atuação com tons de guerrilha era a Igreja Ortodoxa, com as Pussy Riot a
cantarem sobre o conluio entre os membros da maior corrente religiosa russa e o
governo corrupto de Putin, agora o alvo é Chaika, o procurador-geral do país
que o Presidente nomeou para o cargo em 2006. Chaika foi recentemente acusado
por Alexei Navalni, um dos maiores críticos do líder russo, de beneficiar da
sua posição para proteger o filho que estará envolvido em atividades
empresariais ilegais. Na nova canção de protesto, as Pussy Riot levam a sério
as acusações de corrupção feitas no documentário divulgado em dezembro — que já
conta com mais de 4,5 milhões de visualizações — exigindo a demissão imediata
de Chaika. Na prática, o coletivo usa o novo vídeo — de alta produção, apesar
de feito na clandestinidade como todas as ações das Pussy Riot — para criticar
o facto de um dos responsáveis máximos pelo combate ao crime no país ser, ele
próprio, muito permeável a ilegalidades e atividades criminosas. Há poucos
dias, o próprio Kremlin disse não estar interessado nas alegações de corrupção
que pendem sobre o filho de Chaika, tendo nomeado o próprio procurador-geral
para investigar esse caso. "First the cops will pull you in for
questioning; then it'll look like an accident, you'll be fed to the fish
[Primeiro a polícia vai interrogar-te; depois vai parecer um acidente e serás
dado a comer aos peixes]", canta Nadezhda Tolokonnikova antes de dançar em
frente a um grupo de figuras encapuçadas e enforcadas. Com Maria Alyokhina, as
duas fundadoras do coletivo foram detidas e acusadas formalmente de
"hooliganismo motivado por ódio religioso" em 2012, tendo passado
quase dois anos numa prisão da Sibéria, de onde Nadezhda trocava cartas com o
filósofo Slavoj Žižek. Chaika desmente todas as acusações de corrupção feitas
por Navalni e acusa secretas ocidentais e o empresário americano William
Browder de estarem por trás delas. Reagindo ao documentário onde é posto em
causa, o procurador-geral disse "Eu amo a Rússia, eu sou um patriota"
— uma frase que por se ter tornado comum entre os homens fortes russos acusados
de corrupção, serve de refrão à nova música das Pussy Riot (Expresso)
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