Muitos dos esquemas usados pelos ricos estarão no limite da legalidade.
No tema de capa da VISÃO esta semana nas bancas, contamos dezenas de “truques”
e episódios famosos. Eis alguns dos mais conhecidos.
- DECLARAR MENOS RENDIMENTO DO TRABALHO E MAIS RENDIMENTO DO CAPITAL, SUJEITO A UMA TRIBUTAÇÃO INFERIOR
Há várias formas de aliviar a fatura do IRS. Quem tem empresas, pode
transferir património e assim evitar pagar IRS ou, então, optar pela tributação
autónoma do rendimento, pagando uma taxa de apenas 28 por cento. Outra opção é
a de investir os rendimentos, ficando sujeitos a tributação apenas sobre os
juros e mais-valias e não sobre o capital, diz o fiscalista Tiago Guerreiro.
- REGISTAR EMPRESAS EM PARAÍSOS FISCAIS OU EM PAÍSES ONDE OS LUCROS E OS DIVIDENDOS PAGAM MENOS IMPOSTO
Dizem os entendidos que recorrer a offshores para apagar o rasto do
dinheiro compensa cada vez menos. A troca automática de informação é hoje
global, devido aos acordos e convenções internacionais. Agora, as atenções
voltam-se para as multinacionais como o Deutsche Bank, Amazon, Ikea ou Pepsi,
envolvidas no escândalo Luxleaks que divulgou a existência de acordos confidenciais
com o Luxemburgo para reduzir os impostos.
- TRANSFERIR IMÓVEIS PARA FUNDOS IMOBILIÁRIOS COM UM REGIME FISCAL MAIS FAVORÁVEL
Colocar o património nestes fundos, e trocá-los por Unidades de
Participação (UP), pode ser um bom negócio. Os proprietários ficam isentos de
IRS e de IRC e, em caso de resgate, só pagam taxas liberatórias de 28% e 25%,
consoante sejam particulares ou empresas. O OE para 2016 veio revogar a isenção
de 50% no IMI e no IMT que vigorava para estes fundos, que só pagavam metade daqueles
impostos.
- ABRIR CONTAS BANCÁRIAS EM PAÍSES QUE FAZEM POUCAS PERGUNTAS
Durante anos, os bancos da Suíça foram os mais procurados para pôr o
dinheiro a render. Mas a tradição helvética de pagar juros altos e de fazer
poucas perguntas já não é o que era. Os suíços estão mais colaborantes depois
do escândalo das listas de clientes conhecido por Swissleaks. Isaltino Morais,
Carlos Santos Silva (amigo de José Sócrates) e Ricardo Salgado, assim como os
outros envolvidos na Operação Monte Branco, foram as principais “vítimas”.
- USAR ‘TESTAS DE FERRO’ PARA DESPISTAR O FISCO
Colocar dinheiro ou ativos em offshores registadas em nome de outras
pessoas é um dos truques mais antigos para iludir o fisco. Em Portugal, o
Ministério Público suspeita que Carlos Santos Silva e o empresário Joaquim
Barroca foram “testas de ferro” de Sócrates para esconder dinheiro, fazendo-o
circular por paraísos fiscais para apagar o rasto. Mas os fiscalistas vão
dizendo que este “crime” já não compensa.
- MUDAR A RESIDÊNCIA (OU A NACIONALIDADE) PARA OUTRO PAÍS E USUFRUIR DOS BENEFÍCIOS FISCAIS PARA RESIDENTES NÃO HABITUAIS
Portugal tem um regime atrativo para os estrangeiros, mas, na Europa, é
a Bélgica que recolhe as preferências dos ricos que não gostam de pagar
(tantos) impostos. O caso mais conhecido é o do ator Gérard Depardieu, que em
2012 naturalizou-se russo e mudou-se para a Bélgica para fugir ao aumento da
tributação em França. Também o arquiteto espanhol Santiago Calatrava, que
projetou a Gare do Oriente, trocou Madrid por uma residência fiscal na Suíça.
- APROVEITAR AS BRECHAS E OS ALÇAPÕES DA LEI E FAZER PLANEAMENTO FISCAL AGRESSIVO COM A AJUDA DE CONSULTORES ESPECIALIZADOS
A denúncia é feita pelas autoridades tributárias e não é só em Portugal.
Em Inglaterra, o fisco recruta regularmente quadros nas maiores consultoras
(conhecidas por “big four”), cobrindo-lhes o salário, para aprender alguns dos
truques no limite da legalidade que permitem aos clientes pagar menos impostos.
“Cá, é o setor público que perde quadros para o privado”, garante uma fonte da
AT.
- INFLUENCIAR OS LEGISLADORES
Há muito que se discute a influência dos consultores e grandes
sociedades de advogados na elaboração das leis fiscais em Portugal, que são da
responsabilidade do Governo e do Parlamento. O ex-diretor-geral da AT, Azevedo
Pereira, pôs o dedo na ferida, ao denunciar as pressões que alguns
contribuintes exercem sobre os legisladores para que estes alterem as leis a
seu favor (Visão, um trabalho das jornalistas Clara Teixeira, Isabel Nery e RitaMontez)
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