Foi um grande
mal-entendido com que Ensign John Gay se deparou em 2000, assim que pisou
terra, vindo do U.S.S. Constellation, que navegava no Pacífico Sul ao serviço
da Marinha norte-americana. Queriam entrevistá-lo a respeito do prémio World
Press Photo que havia ganho por causa de uma fotografia que captou a 7 de julho
de 1999. Toda a gente estava convencida que a imagem mostrava um avião de
guerra a ultrapassar a barreira do som. Mas nada disso aconteceu realmente:
afinal aquela era apenas uma nuvem criada pelas altas velocidades.
Naquele verão, o
esquadrão One Five One levantou voo para uma demonstração em Busan, na Coreia
do Sul. Ensign John Gay era o responsável pela gestão dos sistemas de
reconhecimento aéreo dos aviões, necessários para operações de vigilância, mas
estava de folga e por isso decidiu pegar numa Nikon para se dedicar à outra
paixão: a fotografia. Apontou a câmara a um F-18 e esta foi a fotografia que
saiu.
O autor da
fotografia sabia que ela era especial, porque ouviu um estrondo no momento em
que clicou no botão, mas não sabia do que se tratava. Enviou-a aos superiores
no Departamento da Informação Naval (que não deram grande importância à imagem
e que julgaram que seriam uma questão de perspetiva ou um fenómeno de uma nuvem
ligado à humidade), mas a comunicação social não deixou a fotografia escapar.
Todos os jornais,
revistas e o World Press Photo se apressaram a descobrir o que mostrava de
facto a imagem, onde o avião parecia sair de um portal vindo de um universo
paralelo. E então vieram com uma explicação: aquela nuvem era um fenómeno que
só acontecera porque o avião havia ultrapassado a barreira do som. Ensign John
Gay aceitou a explicação. Mas afinal, sabe-se agora, estavam todos errados.
Afinal o efeito chama-se “vaporização induzida pelo fluxo” e surge em redor de
objetos que viajam a velocidades muito altas em condições ambientais
específicas, explica a NASA.
Para vermos aquela
nuvem, não bastava que o avião andasse muito (mesmo muito) rápido. Neste caso,
as formas foram essenciais: as velocidades muito altas formaram ondas nas curvas
do F-18 e permitiram a distribuição do ar ao longo de toda a superfície do
avião. Por causa dessas curvas, quando está em voo, o ar eleva-se e encontra
uma onda de choque que aumenta a pressão aérea e a temperatura. Ao chegar às
asas, o ar expande em redor delas e diminui repentinamente essa pressão aérea.
Depois o ar prossegue para a parte de trás do avião, encontrando outra onda de
choque.
Este comportamento
é normal, mas só pode ser visto se houver humidade suficiente no ar. Caso ela
exista, o vapor de água condensa-se e forma uma nuvem, quando a pressão está em
baixo e atinge a segunda onda de choque.
Ensign John Gay, o
autor da fotografia, tem agora 53 anos e nunca recebeu nenhum prémio monetário
pela fotografia que foi intensamente explorada pelos cientistas. Está há 28
anos a serviço da Marinha norte-americana no gabinete de relações públicas
(Observador)
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