quinta-feira, 23 de junho de 2016

Ronaldo e o "caso" do microfone: Quem ganha e quem perde com o caso?

Não posso, como é evidente, aplaudir o arremesso do microfone da CM TV para dentro de um lago por parte de Cristiano Ronaldo. É básico: não devemos nunca destruir propriedade alheia ou faltar ao respeito a quem tenta fazer o seu trabalho, por muito que discordemos da forma como ele está a ser feito. No entanto, há no incidente várias coisas que não compreendo nem compreenderei por mais que tentem explicar-mas.
Primeiro, da parte da seleção. Faz algum sentido os jogadores irem fazer um passeio ao longo da margem de um rio para descomprimir e – pelo menos nas imagens que vi – irem rodeados de seguranças por todo o lado? Não creio. Gosto de passear ao longo das margens de rios, mas em paz e sossego, não naquele ambiente que só pode ser de tensão. Se me meto no lugar dos jogadores, acho que ficaria muito mais tenso ainda.

Depois, da parte dos jornalistas. Faz algum sentido interromper um passeio de descompressão para perguntar a Cristiano Ronaldo se está “preparado para o jogo”? Que resposta se espera? Que não, que não está preparado e que por isso vai pedir a Fernando Santos para ficar no banco? Ou um soundbyte meramente vazio, a dizer que sim, que vai dar o melhor de si próprio. E isso ia valer exatamente o quê no dia informativo? A avaliação de risco/benefício da ação não devia ter levado os jornalistas a evitar a situação?
A única justificação que encontro – porque é com o jornalismo que me preocupo – é que tudo o que se procura seja o “buzz” mediático. E nesse caso a situação deixa todos a ganhar. Ganha Ronaldo, que de repente volta a ter com ele todos os que acham que os jornalistas exageram na forma como acompanham a seleção (e são mais do que muitos pensam). Ganha a CM TV, que tem pela frente um dia no topo da atualidade. A questão é que perde o jornalismo. Com este incidente, como com as perseguições a autocarros ou com os diretos incessantes à porta dos hotéis sem nada para dizer, conseguem-se duas coisas. Uma, imediata, são audiências. Dizem-me que sim, pelo menos. Outra, mais a longo prazo mas terrivelmente importante, é diminuir o jornalista frente ao protagonista, é tirar-lhe a dignidade de que a sua missão devia estar revestida. E isso não pode ser bom (aqui)

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