Governante de um dos mais pequenos e mais ricos países
do mundo proibiu quaisquer celebrações natalícias. Motivo: aquelas afastam os
muçulmanos do "caminho justo". O sultão Hassanal Bolkiah, que governa o Brunei desde
1967, proibiu neste ano toda e qualquer comemoração do Natal neste pequeno país
muçulmano do Sudeste Asiático, com o argumento de que "prejudica a
religião" islâmica". Isto apesar de Jesus ser mencionado no Alcorão
como profeta, mas não é reconhecida natureza divina. É apenas um mensageiro de
Deus.
A interdição de celebrar o nascimento de Jesus, e de
todo o seu significado para os cristãos, foi acompanhada de medidas concretas,
como a aplicação de multas elevadas e a condenação a penas efetivas de prisão,
que podem ir até aos cinco anos. Foram proibidas as decorações no interior das
casas, o uso de barretes natalícios e as saudações típicas da época porque
"afastam os crentes [muçulmanos] do caminho justo", lê-se no decreto
da interdição.
Desde 2009 que as celebrações natalícias eram
assinaladas de forma muito discreta, após a aplicação da lei islâmica no
sultanato. A decisão do sultão segue-se à entrada em vigor de um novo código
penal em maio de 2014 totalmente moldado pelo direito islâmico. Neste
prevê--se, por exemplo, a interdição da venda e consumo de bebidas alcoólicas,
a lapidação de adúlteros e o corte de uma das mãos aos ladrões. Atualmente, o
Brunei é o único país do Sudeste Asiático a aplicar a lei islâmica; na vizinha
Malásia, esta vigora em alguns estados, assim como a região de Mindanao, nas
Filipinas. O direito islâmico aplica-se também noutros países da área em casos
envolvendo apenas muçulmanos.
Mas este pequeno território fronteiriço com o estado
de Sarawak, da Malásia, e com costa para o mar da China Meridional, não foi o
único país a proibir o Natal nas suas fronteiras. Também as autoridades do
Tajiquistão, país de maioria muçulmana da Ásia Central, seguiram o mesmo
caminho, tendo sido interdita a oferta de prendas, as decorações natalícias, a
preparação de pratos associados à época e qualquer manifestação pública,
individual ou coletiva, que recorde o Natal. No caso do Tajiquistão, estamos
perante o Natal ortodoxo, que se celebra a 7 de janeiro. Este país foi, aliás,
pioneiro, nas interdições, aplicando-as desde 2013. O terceiro exemplo veio da
Somália com o argumento de que "toda a população é muçulmana e não existe
comunidade cristã no país", afirmou o presidente do Parlamento, citado
pelas agências.
Também o Hamas, que não se pronunciou sobre o Natal,
anunciou na quarta-feira a interdição de quaisquer festejos na Faixa de Gaza,
que controla desde 2006, na passagem de ano. O argumento é que são contrários
"aos ensinamentos" do islão.
Mas é no Brunei dirigido por Bolkiah - um dos homens
mais ricos do mundo com uma fortuna estimada em cerca de 17 mil milhões de
euros - que a medida surge como algo desajustada. Em termos históricos, o
sultanato sofreu influências da cultura espanhola e inglesa. Após a
independência do Reino Unido, em 1984, os seus vastos recursos energéticos
permitiram-lhe ascender ao estatuto de país desenvolvido, com um dos PIB per
capita (em paridades de poder de compra) mais elevado do mundo. E, se na região
existem casos de tensão e intolerância face ao cristianismo, existe também o
exemplo da coexistência, ainda que por vezes complicada, das duas religiões na
vizinha Indonésia, Estado que é, pela população, o maior país muçulmano do
mundo. Dos cerca de 430 mil residentes no sultanato, dois terços são
muçulmanos. Na Indonésia, os cristãos são cerca de 33 milhões numa população de
quase 257 milhões.
A medida foi aplicada sem hesitações, tendo os hotéis
frequentados por ocidentais não ostentado neste ano os tradicionais enfeites. A única exceção aos rigores da lei islâmica parece ser
o próprio sultão, de 69 anos, conhecido pelo gosto de mulheres atraentes, e
alguns elementos da família real, como o seu irmão Jefri Bolkiah, conhecido por
uma vida de luxo. Jefri foi afastado de todas as funções oficiais e sobre ele
correm, no exterior, histórias e anedotas associadas a festas extravagantes,
haréns e excessos vários. Para alguns muçulmanos, parece não serem errados os
desvios do "caminho justo" invocado pelo sultão para proibir o Natal
no seu país (DN-Lisboa)
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