Ela chama-se Ronda Rousey e é provável
que não a conheça. Mas esta norte-americana está para ficar, apesar de ter tido
um momento para esquecer, quando a cara dela encontrou o punho de uma
adversária. O Expresso continua a apresenta
os 10 acontecimentos desportivos de 2015 que mais vale esquecer em 2016.
Se o estimado leitor é “Inácio” (que
é como quem diz não é assinante da BTV) e não aprecia lutas, então é provável
que não conheça Ronda Rousey. Mas vale a pena prestar atenção a esta
norte-americana conhecida por ser uma das melhores lutadoras do UFC, campeonato
de artes marciais mistas transmitido em Portugal pelo canal benfiquista. Rousey é uma estrela em ascensão, ou não tivesse sido asegunda pessoa mais pesquisada
no Google em 2015, depois de Lamar Odom e antes de Caitlyn Jenner
(sim, é uma lista muitíssimo ligada à cultura norte-americana; já agora, por
curiosidade, a personalidade estrangeira mais
pesquisada em Portugal é Taylor Swift).
O ano de 2015 roçou a perfeição para esta jovem de 28 anos,
que já tinha no palmarés uma medalha de bronze em judo, nos Jogos Olímpicos de
2008: não só ganhou os 12 combates que disputou no UFC até novembro e passou a
ser a atleta mais bem paga (no feminino e no masculino) do campeonato, como
entrou na cultura mainstream nos EUA, com presenças nos filmes “Velocidade
Furiosa 7” e “Mercenários 3” e nos talk shows de Ellen DeGeneres e de Jimmy Fallon
(neste último com um vestido que fez furor nas redes sociais).
Ronda Rousey podia ser só mais uma lutadora no meio de
tantas outras, mas a verdade é que sem ela nem haveria outras lutadoras no UFC.
É que, antes de Rousey, não havia UFC no feminino, com o presidente do
campeonato, Dana White, a ser taxativo quando questionado sobre o assunto, em
2011: “Nunca vamos ver mulheres no UFC”.
Nunca digas nunca, especialmente ao pé de Rousey. “Sei que
isto é sexista. Mas tenho de dizê-lo: olho para as mulheres e elas são lindas.
Não quero ver uma mulher a levar um murro na cara. Nunca pensei, nem em sonhos,
que as mulheres poderiam chegar ao nível competitivo em que estão hoje. Nunca
pensei que aparecesse uma Ronda Rousey”, confessou White, já este ano.
Ela convenceu tudo e todos, espalhando feminismo pelo
caminho. “As mulheres nos desportos de combate questionam as ideias convencionais
do que deve ser uma 'mulher verdadeira'”, defendeu Ronda. “Há muita resistência
em aceitar o facto de que não existem papéis para homens e papéis para
mulheres. Existe apenas a vontade das pessoas. Não há que dividi-lo em quem
pode fazê-lo. Acho que a luta é uma dessas fronteiras finais.”
Ronda não pede desculpa por não usar maquilhagem, dizer o
que lhe apetece e não ter aspeto de “menina”, explicou. “Quando era mais nova
via que os rapazes de quem gostava liam revistas com raparigas que não eram em nada
parecidas comigo e pensava que nunca seria desejada”, contou à “Esquire”. “O
despeito foi o meu grande motivador no início. Estava sempre tão zangada com
tudo”, acrescentou a lutadora, que batalhou vários anos contra a bulimia,
quando era mais nova. A luta sempre fez parte da vida de Ronda e das irmãs, uma
vez que a mãe também foi judoca, como contou Rousey na sua autobiografia, “My Fight/Your Fight”,
lançada este ano nos EUA. Mas a história da família Rousey nem sempre foi
feliz, uma vez que o pai de Ronda cometeu suicídio quando ela tinha oito anos,
depois de ter tido um acidente e de ter ficado a saber que nunca mais
conseguiria andar.
O episódio foi usado pela adversária Bethe Correia, em
agosto, para tentar desestabilizar Rousey antes do combate entre ambas: “Espero
que ela [Ronda] não se mate depois de lutarmos”. A graçola correu mal a
Correia: foi violentamente espancada por Rousey, que a deixou KO em apenas 34
segundos. Voltamos ao início: o ano de 2015 roçou a perfeição para
Rousey. Roçou... até 14 de novembro. Ronda era, como habitualmente, favorita
para o combate com Holly Holm, mas foi surpreendida por uma série de murros
(que lhe partiram alguns dentes) e um pontapé fortíssimo da adversária. E
perdeu o título de campeã, contra todas as expectativas, naquela que foi a luta
mais vista do UFC até então.
“Senti-me humilhada. A maneira como lutei foi uma vergonha.
Nem sequer estava lá. Fiquei fodida. Preciso de voltar e de derrotar esta
gaja”, admitiu Rousey à ESPN, depois da
derrota. Não terá de esperar muito: o
tira-teimas entre Holm e Rousey já foi marcado para julho de 2016, naquele que
será o maior evento do campeonato até hoje, diz o UFC. Ganhe quem ganhar, a
luta já está ganha. Pelas mulheres, claro (Expresso, pela jornalista Mariana Cabral)
***
Sem comentários:
Enviar um comentário