Em sua lenta subida no
Monte Sharp, o rover Curiosity, da NASA, esbarrou em um mistério digno de seu
nome: sílica. Muita, muita sílica. E a descoberta pode ajudar na compreensão do
passado geológico do Planeta Vermelho, incluindo que tipo de vida pode ter
existido por lá. O silício é um dos elementos mais abundantes na Terra, mas nós
não havíamos detectado altas concentrações de minerais de silício em Marte até
sete meses atrás, quando a sonda se aproximou do “passo Marias”, uma zona de
contato entre duas unidades rochosas localizadas próximas ao pé do Monte Sharp.
Foi lá que o instrumento laser ChemCam da sonda identificou, pela primeira vez,
sedimentos repletos de sílica, com concentrações de até 90%. A descoberta foi
tão surpreendente que a equipe científica da missão tomou a rara decisão de
virar o veículo para dar uma volta e fazer mais buscas no local.
Nós finalmente sabemos o
que aconteceu com a água em Marte
Depois de perfurar alguns
buracos e executar medidas elementais e minerais por um período de quatro meses,
a Curiosity foi capaz de confirmar a concentração de sílica em vários locais
diferentes. Para os geologistas, isto é fascinante, não apenas porque locais de
sílica indicam ambientes com água, mas também porque eles podem nos dizer como
eram estes ambientes. Nós já tivemos várias
evidências que a antiga Marte era um lugar cheio de água. Logo depois de pousar
na cratera Gale, a Curiosity descobriu um leito de lago na baía Yellowknife. À
medida que o explorador autônomo viajava a sudoeste, em direção ao Monte Sharp,
nós acumulamos mais e mais evidências de antigos rios e lagos por todos os
lugares. Tudo isso corrobora décadas de evidências coletadas pelos primeiros
exploradores de Marte, incluindo a Spirit e a Opportunity.
Mas água apenas não quer
dizer que o Planeta Vermelho já foi habitável. Talvez os lagos de Marte fossem
muito ácidos, muito salgados ou muito tóxicos para até mesmo os micróbios mais
durões suportarem. É por isso que precisamos de outras linhas de evidência -- e
locais ricos em sílica são a pista mais fascinante que temos há muito tempo.
“Estes compostos ricos em
sílica são um quebra-cabeças”, diz Albert Yen, membro da equipe científica da
Curiosity no Laboratório de Propulsão a Jato, em um comunicado à imprensa.
“Você pode aumentar a concentração de sílica lixiviando outros ingredientes
enquanto deixa a sílica para trás ou trazendo a sílica de outro lugar. Qualquer
um desses dois processos envolvem água. Se nós conseguirmos determinar qual
deles aconteceu, descobriremos mais sobre outras condições dos antigos
ambientes aquosos.” Se as concentrações de
sílica que estamos vendo são resultado de processos de lixiviação, em que
outros minerais foram dissolvidos, isto sugere um ambiente altamente ácido. Por
outro lado, se a sílica foi acrescentada à mistura de minerais posteriormente,
isso poderia indicar condições muito menos extremas.
“Se você quer vida, você
quer um ambiente com pH mais neutro, pH 7 ou 8”, explicou Ashwin Vasavada,
cientista do projeto Curiosity, em uma conferência de imprensa na União
Americana de Geofísica. “Este é o intervalo de pH em que você poderia esperar
uma precipitação de sílica.” Outra peça do
quebra-cabeça é a tridimita, um mineral de sílica raro que a Curiosity detectou
no buraco perfurado em Buckskin, mostrado acima. É a primeira vez que a
tridimita foi encontrada em Marte e, enquanto o mineral é usualmente
diagnosticado em ambientes vulcânicos aqui na terra, Buckskin é parte de um
deposito sedimentar de grãos finos, talvez um antigo leito de lago. Ainda é
incerto se a tridimita foi erodida, transportada ou precipitada de algum outro
lugar.
“O quebra-cabeça que
Marte nos apresentou é muito complicado”, disse Yen na conferência. “Estamos
tentando descobrir de onde tanta sílica vem e as implicações que ela tem na
história aquosa de Marte.” À medida que a Curiosity
continua a se arrastar pelo Monte Sharp e pelo tempo geológico, cientistas
continuam a explorar diferentes hipóteses para a desconcertante aparição de
sílica. Mas uma coisa está clara neste ponto: Marte é tão complexa quanto a Terra
-- geologicamente, ao menos.
Isso nos dá esperanças de
que a vida iria encontrar um caminho no Planeta Vermelho (aqui)
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