Aos 37 anos, Marissa Mayer saiu da Google para liderar os destinos de uma das históricas da Internet. Foi em 2012 que tomou as rédeas da Yahoo e, ao fazê-lo, tornou-se a CEO mais jovem de sempre de uma empresa listada nas “500” da Forbes. A administração do portal de Internet (é anacrónico escrever “portal”), desejava que Mayer – rotulada como um “cérebro” na Google e a primeira mulher engenheira a fazer parte da empresa do motor de pesquisa – teria a arte e engenho para descobrir novos horizontes para uma empresa que parecia ter parado no tempo da Internet e que tinha contratado (e despedido) cinco CEO em cinco anos consecutivos.
A estratégia de uma das poucas mulheres a liderar uma empresa de grande dimensão em Silicon Valley passou, essencialmente, por comprar conhecimento e apostar em mobilidade. Tumblr, Summly, Flickr… são apenas algumas das empresas que a Yahoo comprou em busca das capacidades que não tinha dentro de casa. Mas a empresa fez mais. Produziu conteúdos próprios e contratou estrelas do entretenimento e do jornalismo. No entanto, passaram quase três anos e meio e a estratégia de Mayer não produz efeitos positivos.
Os resultados financeiros da empresa ficam, cronicamente, abaixo do esperado e os rumores sobre a saída (forçada, entenda-se) de Marissa Mayer são ensurdecedores. Aliás, a empresa terá perdido, segundo o “New York Times”, um terço dos funcionários no último ano. Hoje, dos mais de 11 mil trabalhadores que ainda picam o ponto na Yahoo, apenas 34%, segundo um estudo feito pela empresa Glassdoor (e também citado no “New York times”), acredita que a empresa está a melhorar. Um número muito baixo quando comparado, por exemplo, com os 77% que acreditam na estratégia seguida pelos executivos da Google.
Esta fuga de cérebros será uma das maiores preocupações para Marissa Mayer. Lá, em Silicon Valley, o talento encontra casa rapidamente. Os melhores, quando duvidam da capacidade dos timoneiros, começam a procurar ativamente um novo poiso. Por isso, muitos optaram por sair da Yahoo pelo seu próprio pé. Os outros, habitualmente os que têm menos talento, vão ficando para trás.
Mas o grande problema da empresa é a sua falta de relevância no ciberespaço. As suas apps não são populares (pouco utilizadas), são poucos os que vão ao Yahoo fazer pesquisas e, apesar de ter muito tráfego, o universo de sites não consegue captar a publicidade que a Google ou a Facebook, por exemplo, amealham. Aliás, basta dar uma vista de olhos ao Yahoo para perceber o que está mal. Esta noção de portal agregador que permite ao utilizador personalizar a página para receber os conteúdos consoante os seus gostos pessoais cheira a mofo e transporta-nos para a lógica “portal”, que não se coaduna com a que foi imposta pelo advento das redes sociais.
Hoje, é via Facebook, Twitter ou, por exemplo, Snapchat que se consome grande parte da informação. Feeds estruturados por algoritmos complexos que servem os conteúdos consoante o que está “trending” a cada momento e que tem em conta os “amigos” que temos nessas redes. Nada relacionado com a lógica seguida na Yahoo, onde, em minha opinião, apenas o Yahoo Answers (que funciona tipo fórum) tem a capacidade de reter algum deste espírito de comunidade virtual.
Marissa Mayer ainda tentou vender a gigantesca posição que a Yahoo detém na Alibaba – o maior site de comércio eletrónico na China, de que a empresa norte-americana tem 15% – e que vale mais de 30 mil milhões de dólares, mas o conselho de administração da empresa acabou por invalidar os seus esforços e decidiu dividir a empresa em duas: uma tem a posição na Alibaba, a outra reúne todas as operações de Internet. Ou seja, acabou por ser um spinoff ao contrário. Em vez de criar uma nova empresa para guardar as ações da Alibaba, a administração decidiu deixar ficar as ações na “velha” empresa e fazer o spinoff do “negócio clássico”.
O futuro da Yahoo não me parece muito animado por cores simpáticas como o lilás que enche o logótipo da empresa - e não está afastada a hipótese desta nova empresa (a tal que reúne a atividade histórica da empresa) acabar nas mãos de terceiros. Em tempos (em 2008), a Microsoft chegou a fazer propostas para comprar a Yahoo, mas a negociação não foi para a frente. Hoje, não fará sentido na estratégia da empresa do Windows, mas a Alibaba nunca escondeu as suas ambições globais e, quem sabe se não será a empresa chinesa a comprar a sua acionista.
O que é inegável é que a Yahoo, a continuar assim, vai ficar offline, e Marissa Mayer ganhará uma entrada na história da Internet. Infelizmente, para ela, não pelas melhores razões (Expresso)
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