Durante três séculos discutiu-se sobre a localização da rua retratada
pelo pintor barroco Vermeer (1632-1675) em The Little Street. Agora, Frans
Grijzenhout, professor de História de Arte na Universidade de Amsterdão,
descobriu o sítio exacto das famosas casas de tijolo: é Tripe Gate
("Portão das Tripas", em português), os números 40 e 42 da
Vlamingstraatn em Delft (Holanda). Depois de várias teorias avançadas por
especialistas ao longo dos anos, o professor recorreu ao arquivo municipal para
investigar se, afinal, a rua seria fictícia ou real. E chegou a um documento
intitulado Livro Fiscal da Dragagem dos Canais na Cidade de Delft, datado de
1667 (cerca de dez anos depois de o quadro ter sido pintado), que regista a
taxa que os proprietários de casas no canal tinham de pagar para a dragagem. A
consulta revelou que, na época, apenas as casas que hoje correspondem aos
números 40 e 42 da Vlamingstraat podiam ser as retratadas no quadro.
“A resposta à pergunta sobre a localização de The Little Street de
Vermeer tem uma grande importância quanto à forma como olhamos para este quadro
e quanto à imagem que temos de Vermeer enquanto artista”, diz Pieter Roelofs,
curador das obras do século dezassete do Rijksmuseum (Amsterdão), numa nota
publicada no site da instituição, que detém a obra do pintor e que inaugurou na
semana passada uma exposição a propósito da descoberta, patente até 13 de Março
de 2016. Durante a investigação, Frans Grijzenhout consultou outras fontes, em
particular o Google Maps. Para comemorar a descoberta, o Google Art Project fez
uma compilação especial com algumas informações sobre a obra.
Segundo Frans Grijzenhout, a pintura é “o mais antigo ‘retrato’ do
exterior de uma casa vulgar na Arte do Norte da Europa”. As casas originais
retratadas foram demolidas e, no seu lugar, foram reconstruídas outras no final
do século XIX, mantendo-se a passagem visível entre as duas casas no quadro. A investigação revelou ainda que a casa da direita retratada pertencia a
Ariaentgen Claes van der Minne, uma tia viúva do pintor, que sustentava os seus
cinco filhos vendendo tripas. Por esse motivo, a passagem era conhecida como
Penspoort ("Portão das Tripas"), nome que surpreendentemente é
referido num documento de 1877. O Rijksmuseum avançava que a obra tinha sido
pintada em 1658, mas Frans Grijzenhout acredita que a pintura foi feita mais
tarde, entre 1660 e 1665. Até à descoberta revelada pela investigação, a teoria
mais aceite entre os especialistas apontava que as casas retratadas podiam ser
vistas a partir da pousada Mechelen, de que Vermeer era proprietário. Vermeer
nasceu e viveu toda a sua vida em Delft. Pintou apenas 45 quadros, dos quais 35
sobreviveram até hoje. Entre as suas obras, é aclamado pelas pinturas Rapariga
com Brinco de Pérola e A Leiteira (Publico)
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