Portugal
tem a sociedade com uma maior desigualdade entre os 20 países desenvolvidos analisados
num estudo do banco norte-americano Morgan Stanley. O
relatório, publicado esta terça-feira, analisa a questão da desigualdade
utilizando diversos indicadores que vão da simples distribuição de rendimentos
até à forma como são fornecidos os serviços de saúde, passando pela
desigualdade de género.
Portugal,
que entre os 20 países estudados fica em quarto no índice de Gini (o indicador
que mede a desigualdade do rendimento), sobe para a liderança do indicador mais
amplo calculado pelo Morgan Stanley ultrapassando os Estados Unidos e outros
países do sul da Europa.
Em
segundo lugar no indicador de desigualdade, surge a Itália, seguida da Grécia,
Espanha e Estados Unidos. Nos últimos lugares, os países com níveis de
desigualdade mais baixos são, como habitualmente, os nórdicos, com a Noruega,
Suécia e Finlândia a destacarem-se. Portugal
fica com o nível mais alto de desigualdade nos cálculos do banco
norte-americano pelo facto de obter classificações negativas em praticamente
quase todas as componentes do índice.
No
índice de Gini, que mede a desigualdade na distribuição do rendimento, Portugal
apresenta o quarto valor mais elevado, o que corresponde a mais desigualdade.
Entre os 20 países analisados, é superado pelos Estados Unidos (que lideram), o
Reino Unido e a Grécia.
Depois,
quando se olha para a dispersão salarial, que leva em conta factores como a
variação real dos salários ou a desigualdade de género, fica novamente em
quarto lugar.
Mais
um quarto lugar é registado quando se olha para a forma como são fornecidos os
serviços de saúde à população.
A
pior classificação surge quando se analisa o acesso à economia digital. Aqui
Portugal surge como o terceiro país mais desigual, ficando apenas atrás da
Itália e da Grécia.
Por
fim, no que diz respeito à inclusão no mercado de trabalho, onde se levam em
conta factores como o desemprego jovem, o trabalho parcial involuntário ou o
desemprego dos mais qualificados, Portugal está a meio da tabela, em 10º.
Os
relatórios do banco de investimento Morgan Stanley são geralmente destinados a
investidores nos mercados financeiros, que à primeira vista não teriam um
grande incentivo a preocuparem-se com questões como a desigualdade.
Os
autores do estudo, contudo, tentam contrariar esta ideia, afirmando que “embora
a desigualdade não seja um assunto tipicamente discutido entre os participantes
dos mercados financeiros, ela conta para as suas decisões de investimento”.
Isso é explicado, defendem os autores do estudo, pelo facto de “a desigualdade
altera a distribuição do consumo e das poupanças, assim como da alocação dos
recursos”.
Além
disso, diz o relatório, “a desigualdade pode ser perigosa se se tornar
permanente”. “Se a distribuição é demasiado desigual ao longo do tempo, com uma
diferença crescente e persistente entre os que estão no topo e na base da
escala, impede a participação generalizada nos ganhos de bem-estar com o
crescimento e, a prazo, arrisca-se a corroer a estrutura económica e social de
um país”, diz o banco, que alerta para a possibilidade de ocorrência de
“disrupções nos modelos de negócios e no consenso social, conduzindo a erros de
política”.
Vários
economistas têm assinalado, nos últimos anos, a ocorrência de um agravamento
dos níveis de desigualdade dentro dos países desenvolvidos. O relatório do Morgan
Stanley confirma também esse fenómeno, destacando os EUA e os países do Sul da
Europa como Portugal como aqueles em que a desigualdade é mais persistente
(texto do jornalista do Público, SÉRGIO ANÍBAL)
Sem comentários:
Enviar um comentário