No dia em que o Reino Unido votava pela saída da União
Europeia, Steve Edmundson saiu do trabalho à hora do costume, pelas cinco da
tarde. Poucos minutos depois, estava em casa com a família. Nessa noite dormiu
como de costume e, na manhã seguinte, entrou à mesma hora de todos os
dias. Acontece que Edmundson é gestor de
activos com 35 mil milhões de dólares a seu cargo, e o Brexit provocou um
fortíssimo abalo nos mercados nos dias seguintes à votação. Nessa altura,
Edmundson não vendeu nenhum activo, nem comprou. Seguiu como se nada fosse,
fiel à sua estratégia de "fazer o mínimo possível", e que tem
utilizado na liderança do fundo de pensões dos funcionários públicos do Nevada.
O Estado que alberga Las Vegas é conhecido pelo risco e pelo prazer de jogar,
mas Steve Edmundson não gosta disso. Prefere ficar quieto e esperar, e com isso
o fundo que gere tem estado consecutivamente à frente de muitos dos fundos de
pensões de outros Estados norte-americanos.
A estratégia do Nevada centra-se na simplicidade e nos
custos reduzidos. Aloca os seus investimentos a instrumentos que seguem alguns
índices, e prefere aqueles que têm taxas de subscrição mais reduzidas. Se
outros Estados têm grandes equipas de especialistas financeiros e matemáticos,
no Nevada, Edmundson trabalha quase sozinho. A excepção é Ken Lambert,
antecessor de Edmunson no fundo de pensões, e que é o único consultor externo
de investimento. Os outros dez foram despedidos por não servirem para nada.
Edmundson procura fazer o mínimo possível e, sempre que pode, tenta não fazer
nada. Quando se sente mais irrequieto, admite, pode fazer uma mudança no
portfólio de investimentos… uma vez por ano.
Apesar desta inacção, o gestor gosta de estudar
estratégias de investimento. Não gosta é de as aplicar. "Passo muito tempo
a investigar coisas que depois não fazemos", explica Edmundson ao Wall
Street Journal. Lambert, por seu turno, salienta que "não fazer nada é
mais difícil do que parece", porque obriga a um grande controlo e a
resistir às ofertas de empresas e firmas de investimento, propondo que o Nevada
invista. O gestor atende sempre estas chamadas, mas acaba sempre por não
investir. "Tornei-me bastante bom a dizer não. Tento não lhes dar falsas
esperanças", explica. Com esta estratégia de seleccionar os veículos de
investimento pelo custo e não tentando bater o mercado, as poupanças são
enormes, para além da performance, que tem sido muito positiva. De acordo com
os cálculos do Wall Street Journal, se o Nevada utilizasse os serviços de
gestão das grandes companhias de Wall Street, pagaria cerca de 120 milhões de
dólares anuais em comissões, número que se verifica em vários fundos de pensões
de dimensão comparável. Com a sua estratégia, o fundo de pensões dos
funcionários públicos do Nevada paga cerca de 18 milhões por ano em comissões. O
caso do Nevada tem vindo a ser estudado, e tem aumentado nos últimos anos a
percentagem do portfólio de fundos de pensões a ser alocada a uma gestão
passiva.
Edmundson não gosta de gastar dinheiro, e não é só na
sua vida profissional. O seu carro é um Honda Element de 2005, com 175 mil
quilómetros, e normalmente almoça à secretária: restos do jantar da noite
anterior ou uma sanduíche preparada pela mulher. De acordo com registos
públicos, em 2015 ganhou um salário de pouco mais de 127 mil dólares.
Quanto aos mercados, o gestor vai acompanhando, mas
não ao minuto. O seu gabinete não tem terminal da Bloomberg e ele não gosta de
ver a CNBC. Talvez seja esta a forma de evitar entusiasmos repentinos, que
poderiam quebrar a sua coerente disciplina de se esforçar ao máximo para
conseguir não fazer nada (Jornal de Negócios, texto do jornalista TeagoFreire)
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