quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Inés Arrimadas, a andaluza que conquistou a Catalunha

“Nunca me senti bonita.” Foi isto que a cabeça-de-lista do Ciutadans às eleições autonómicas da Catalunha respondeu a um entrevistador quando se começou a falar sobre o papel das mulheres na política. Para o caso, não é uma questão irrelevante. Os opositores nunca a levaram muito a sério. Os programas humorísticos da televisão catalã, como o Polònia, caricaturavam-na como uma Barbie sem ideias que papagueava frases feitas. A verdade é que, em poucas semanas, Inés Arrimadas passou do quase total desconhecimento para as luzes da ribalta: o Ciutadans (catalão para Ciudadanos) elegeu 25 deputados no parlamento catalão, tornou-se o maior partido da oposição e deu um novo ânimo ao líder Albert Rivera, candidato a primeiro-ministro de Espanha em dezembro. Este resultado explica-se só pela beleza de Inés?
Não, dizem os que a conhecem pessoalmente. Albert Rivera, o catalão que manda no Ciudadanos e quer mandar em Espanha, não tem dúvidas em classificá-la como “a mulher com mais futuro político do país”. Ao elogio, Arrimadas reage como diz reagir a muita coisa na vida: com timidez. “Nunca me tinha passado pela cabeça dedicar-me a isto, aparecer na televisão e assim”, dizia numa entrevista ao El Mundo poucos dias antes das eleições que a puseram no mapa
O caminho até estas eleições é fora do comum. Inés nasceu a 200 quilómetros de Portugal, em Jerez de La Frontera, na muy castellana região da Andaluzia. Os pais são de Salamanca e ela viveu e estudou em Sevilha até depois dos vinte anos. Em 2008, muda-se para Barcelona devido ao trabalho numa consultora. Apaixona-se pela Catalunha, aprende o nível máximo da língua catalã e passa a sentir-se filha da terra.
Há muitas formas de ser catalã, não há um requisito X para ser catalão. Tal como há muitas maneiras de ser espanhol ou andaluz. Nós [no Ciutadans] pensamos mais nas pessoas do que nas identidades coletivas. O importante é como é que cada um se sente, sem necessidade de definir, legislar ou impor sentimentos: é preciso respeitá-los. Existe uma grande obsessão política na Catalunha para impor identidades”, disse ao El Mundo.
Foi com essa mensagem que foi para a campanha eleitoral e conseguiu ser a mais convincente dos partidos anti-independência em disputa. Só duas sondagens lhe davam o número de deputados que viria a obter, apesar de desde o início se ter percebido que o Ciutadans não vinha com vontade de brincar. Enquanto se tentava impor como a alternativa sensata à “aventura separatista”, Inés e o partido aproveitavam todas as oportunidades para dar alfinetadas ao Partido Popular, de Rajoy, que muitos catalães não distinguem da formação de Arrimadas e Rivera.
Depois de ter entrado no Ciudadanos em 2011 por acaso — diz que foi apenas a acompanhar uma amiga a um comício e gostou do que ouviu –, Inés Arrimadas procura agora uma voz própria não só dentro do partido como na Catalunha. Para contrariar a ideia de que é uma Barbie, mero papagaio das linhas programáticas de Albert Rivera: renovação política e institucional, luta contra a corrupção e contra o independentismo.
Os de sempre estão a utilizar uma cortina de fumo para que não se fale dos casos de corrupção, da austeridade e da incompetência na gestão. Todos temos agora uma oportunidade para dizer “acabou”. Durante anos isto foi como uma tortura: ‘a culpa é de Espanha, Espanha rouba, estávamos melhor sozinhos…’.”
Até agora, o Ciudadanos tinha dificuldades em ter sucesso eleitoral em candidaturas que não fossem lideradas pelo próprio Rivera. A partir de agora, há Inés Arrimadas a colocar o partido de novo na rota da destruição do bipartidarismo. Nos próximos meses, entre a formação do novo governo catalão e as legislativas espanholas, terá de ser mais do que uma cara bonita (Observador)

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